O que me vai na alma...

domingo, 18 de maio de 2008

Do acto de falar...

"Durante uns dias o cão não falou. Digo bem: não falou. A fala é muito complicada. Está antes da palavra, como a poesia. E aquele cão falava. Falava com os seus vários modos de silêncio, falava com os olhos, falava, até, com o rabo, falava com o andar, com as inclinações de cabeça, com o levantar ou baixar as orelhas. Daquela vez calou-se por completo. Não falou com nenhum dos seus sinais. Nem sequer com o seu silêncio."

[Manuel Alegre, Cão como Nós]

Falar...

Será que só falamos quando articulamos sons, sons esses que juntos formam palavras, palavras essas que, como uma sinfonia, transmitem mensagens?

Tal como Kurika [o cão que é descrito neste excerto da deliciosa obra de Manuel Alegre citada acima] fala sem falar, será que também nós falamos sem falar?

Eu penso que sim, os olhos, os gestos, as hesitações, os silêncios, o tom de voz, o rubor da face, os ditos e os não ditos... tudo isso fala e, por vezes, fala até mais do que os próprios sons articulados que emitimos!

1 comentário:

Just me disse...

Concordo plenamente! Eu às vezes, falo de mais "^^